quinta-feira, 16 de junho de 2011

Aline Calixto lança segundo disco de samba abrindo as portas para outros estilos


Muita coisa aconteceu desde que Aline Calixto lançou seu primeiro disco, em 2009. De lá pra cá, a cantora encantou muita gente, esbarrou com ídolos no palco e fora dele, foi premiada e, o melhor de tudo, conquistou a confiança de muitas feras, que entregaram-lhe de olhos fechados composições para ela gravar o álbum que está sendo lançado pela Warner Music. Flor Morena traz uma nova versão de Aline, essa carioca que se mudou para Minas Gerais quando pequena, mas voltou ao Rio para se afirmar como uma das revelações da música brasileira. Se há dois anos ela veio divulgando o samba que costumava cantar, agora Aline começa a abrir as portas para outros estilos. O segundo CD também mostra uma cantora mais madura e segura, que sabe que escolheu o caminho certo a seguir.

“Nesses dois anos, percebi o crescimento do trabalho e como isso reverberou em outros estados, percorri 9 capitais brasileiras. Esse CD é muito importante pra mim. É a continuação de um trabalho, mas com uma concepção um pouco diferenciada. Tem samba tradicional, tem música que é samba misturado com salsa. Abri espaço para o diálogo entre o meu samba e outros gêneros”, diz Aline.

Os ritmos latinos se encontram com violão, moringa e efeitos em “Conversa Fiada”, a única composição do disco em que letra e melodia levam a assinatura de Aline. “Teu Ouvido”, que fala de amor e faz uma analogia entre a batida do coração e a do bumbo, é uma parceria com Thiago Paschoa e Arthur Maia. O baixista, que acompanha feras como Gilberto Gil, assina a produção musical do álbum e a maior parte dos arranjos ao lado de Thiago Delegado, o violonista que toca com Aline desde o início de sua carreira e que tem uma harmonia e forma de tocar muita própria.  “Esse disco está cheio de pessoas queridas, que eu admiro muito. “Flor Morena” tem arranjo de Gilson Peranzetta, um dos grandes maestros do Brasil. “Gemada Carioca” foi composta e arranjada por Martinho da Vila”, conta Aline.

A aproximação com Martinho se deu quando o sambista gravou o disco Poeta da Cidade, em homenagem a Noel Rosa, e convidou Aline para participar. Foi nele que a cantora pensou quando percebeu que não conseguiria sozinha, escrever uma canção em homenagem à tataravó, cuja história descobriu recentemente. “Conversando com minha avó, soube que minha tataravó era uma escrava que conquistou o Coronel André Resende a ponto de ele largar sua esposa para viver com ela. Eu amei essa história! Sou compositora, mas não consegui escrever algo tão pessoal e pedi ao Martinho.” O bamba enviou letra, melodia e ainda preparou o arranjo de “Gemada Carioca” para Aline gravar.

A faixa-título, “Flor Morena”, foi um presente do amigo Arlindo Cruz e de Zeca Pagodinho. Zeca compôs a música para sua filha, mas deu a Aline a responsabilidade de eternizá-la, mostrando a força das mulheres. “É uma música linda, porque retrata a mulher de forma muito doce, como uma flor, enquanto tem tanta letra por aí que bombardeia as mulheres.” O cuidado com o que canta também ajudou Aline a decidir colocar no repertório “Caçuá”, de Paulo César Pinheiro com o baiano Edil Pacheco. Quando ouviu, apaixonou-se. Mas não desencanou até descobrir o que queria dizer uma palavra na frase “Ela não para de bolir o seu tunda”. Aos risos, Paulo César traduziu “tunda” para “bumbum”.

Outra dupla de ouro gravada por Aline Calixto é Nei Lopes e Moacyr Luz: a cantora interpreta o sincretismo em “Ecumenismo”. Parceiros da nova geração, João Cavalcanti e Joca Perpignan enviaram “De Partir Chegar” para conquistar a cantora. Segundo o líder do grupo Casuarina, a música é uma “cirandatu”, ou seja, uma mistura de ciranda com maracatu. Outra conquista foi a de Peu Meurray, um baiano que já acompanhou muitas feras e entregou a Aline uma música que fala sobre a universalidade do samba. “Cabila” teve partes gravadas na Bahia, assim como “Cafuso” (Toninho Geraes) e “Caçuá”. A Bahia, por sinal, acolheu muito bem Aline Calixto. Ela foi convidada a subir ao palco com Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e Gilberto Gil no Sarau do Brown e pôde ver de perto fãs cantando suas músicas. 

“Reza Forte” é uma música de Rodrigo Maranhão e Mauro Reza que homenageia Rio e Minas: “Eu misturo samba enredo com tambor mineiro na música.” Do baú de memórias, Aline resgatou “Je Suis la Maria”, de Dora Lopes, uma cantora da era do rádio descoberta no final da década de 40 por Ary Barroso e esquecida pelo tempo. O disco conta ainda com “Blá blá blá” (Toninho Geraes), “Me Deixa Que Eu Quero Sambar” (Mauro Diniz)  e uma belíssima releitura em voz e violão de uma canção de Paulinho da Viola abençoada por ele mesmo por uma grande coincidência: no dia em que Aline estava gravando “Coração Vulgar” no estúdio, soube que o Príncipe do Samba estava na sala ao lado. Mesmo nervosa, foi até lá, convidou o ídolo para ouvir o que já estava registrado, e ganhou elogios. 

Aline ganhou fãs por todo o Brasil, e já gravou com Martinho da Vila, Sérgio Loroza e Flávio Renegado. O mundo do samba e da música brasileira abraçou Aline Calixto e ela está prestes a abraçar o mundo. De Viçosa, município mineiro no qual aonde tudo começou, a cantora se prepara para fazer sua primeira turnê internacional, pela Austrália e Nova Zelândia. Passo óbvio para quem já foi agraciada com o tão desejado o prêmio Disco do Ano da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em 2009, um ano antes de ela ser indicada em duas categorias no Prêmio de Música Brasileira, melhor Cantora de Samba e melhor Cantora por Voto Popular.

Maio 2011